segunda-feira, 11 de maio de 2015

Redirecionamento.


O blog agora funciona no facebook, pessoal. Lá fica bem mais prático de postar e manter atualizado, além do alcance das publicações também ser mais facilitado e maior,  eu consigo interagir com vocês respondendo seus comentários e mensagens, posso compartilhar coisas interessantes de outras páginas, etc.
Portanto, quem quiser continuar acompanhando, curte aí: https://www.facebook.com/sesentindomae

Agradeço a compreensão e nos vemos lá.

quarta-feira, 8 de abril de 2015

Nada termina na maternidade, só começa.

No episódio anterior vocês acompanharam um pouco do meu drama com a perda do meu esperado parto normal e o processo escroto da cesárea. Mesmo fazendo um relato resumido, deu bastante caldo e terminei o post devendo comentar sobre o pós operatório. Pois bem...

A primeira noite no hospital foi a pior. Não sentir dor e ficar em total repouso tem o lado negativo de me tornar incapacitada de fazer praticamente qualquer coisa, logo, fui inútil.
Quem precisou segurar a barra foi o Ian, que não fazia ideia do que estava fazendo ou do que podia mais fazer. Basicamente passou a madrugada toda acordado dando colo e tentando acalmá-la, mas a tarefa parecia impossível. Eva passou suas primeiras horas de vida chorando incansável e histericamente, e eu tive que assistir isso imóvel, com o coração apertado e desesperada por não poder fazer nada incluindo não amamentar (o que explica o porquê de tanto choro).
Sim.... Como se não bastasse não conseguir segurar ou abraçar, eu também não consegui alimentar minha filha nas suas primeiras horas. Tive que aceitar e assistir ela ingerir leite artificial que davam num copinho de três em três horas, e que certamente, não a satisfazia.
Apenas pela manhã uma enfermeira nos instruiu como posicioná-la pra mamar enquanto eu estivesse naquela situação (totalmente deitada), mas ela explicou e fez tudo tão rápido que não foi de muita ajuda.

O segundo dia dela foi um pouco mais tranquilo em comparação com a primeira, mas também teve muito choro, e quem teve o sono abalado dessa vez foi a minha sogra, que substituiu o Ian como acompanhante para que ele finalmente pudesse dormir. Quanto a mim, foi logo no dia seguinte a cirurgia que me fizeram levantar e tomar banho, e esse foi o momento de maior dor física da experiência toda. Eu não sei como descrever a sensação na região onde a operação foi feita, apenas que foi muito estranha, horrível! Logo ao sentar eu me senti mal, e quando finalmente consegui ficar de pé, minha pressão despencou, minhas pernas bambearam freneticamente, meu corpo pesou, faltou ar e eu tive uma espécie de blackout (minha visão granulou até escurecer e fiquei surda por alguns segundos). Foi como desmaiar sem cair, e talvez isso tivesse acontecido se a enfermeira não me apoiasse. Aquela reação se repetiu toda vez que eu me levantei enquanto permaneci no hospital e continuou, porém um pouco mais leve, no primeiro dia após a alta.

Meu jejum acabou 12 horas após a cirurgia, e embora a comida não fosse lá as das mais animadoras, não tenho o que reclamar do serviço. Além das refeições e lanches, eu também reconheço o atendimento das enfermeiras, em geral, sempre simpáticas e prestativas - O destaque foi um senhor muito alegre e gentil, que embora fosse chamado de maqueiro mas era meio que um faz tudo, com o bordão "Só vitória!" (rs).
Saída de maternidade - "Isso é um bebê ou uma boneca?"
Embora o protocolo seja dois dias (estando tudo bem com a mãe e o recém nascido), eu não fiquei nem 48 horas no hospital já que saí de lá no inicio da tarde.
Ao contrário das enfermeiras, o obstetra que realizou minha cirurgia não foi igualmente atencioso. Eu não recebi uma única visita dele depois da operação, nem mesmo na hora de dar a alta - ao contrário da Eva que foi avaliada por uma pediatra antes de ser liberada. Nem mesmo restrições de alimentação foram passadas pra mim! Ou seja, que merda se eu não estivesse realmente bem ou não fosse tão auto didata, né!?
Enfim.. Deixamos o hospital Daniel Lipp na sexta 13/03.

A partir daí, a recuperação foi bem mais fácil. Embora a minha independência tenha vindo a longo prazo, o conforto e a privacidade de casa ajudaram bastante. E claro, a cinta também foi crucial! Tudo era muito mais fácil de se fazer usando-a, pois o que mais me incomodou no pós operatório *fisicamente falando* foi o que eu chamo de "pochete", a barriga mole que fica de lembrança do parto. Com a pochete, vem aquela sensação de que tudo lá dentro tá solto, além de causar dor nas costas porque eu não conseguia andar ereta - e ser feio. Então a cinta é a criação divina que ajuda a minimizar esse desconforto enquanto o útero vai diminuindo e a barriga volta lentamente ao seu lugar.
Ah! Eu já ia esquecer o item Fazer xixi da lista "porque pós operatório de cesárea é cu". Não sei bem o motivo ainda, mas rola um desconforto forte na hora de esvaziar a bexiga, e assim como a pochete e o sangramento (sim, a mulher sangra por alguns vários dias depois do parto, tanto normal quanto cesárea), essa dor diminui mais lentamente que o resto.
Bom. A medida que a pressão na região do corte e o medo de abrir os pontos diminuiu e minha mobilidade aumentou, experimentei outras e melhores posições pra amamentar. Demorou um pouco pra ajustar e aperfeiçoar a pegada, logo, meus mamilos ficaram machucados e doloridos nos primeiros dias; Eu fechava os olhos e socava a almofada quando ela abocanhava o peito de tanto que doía no ápice do problema! Felizmente, com estratégia e perseverança, consegui superar isso sem parar de amamentá-la.

Foto tirada há 4 dias atrás, 23 dias após a cirurgia.
Atualmente eu não preciso usar a cinta, embora use eventualmente. Minha linha nigra (aquela listra em vertical que passa pelo umbigo) permaneci aqui escurinha, e eu ainda sinto uma sensibilidade na pele acima da cicatriz, como se a região estivesse dormente ou algo do tipo.
Vez ou outra desce umas gotinhas de sangue bem clarinho e ainda sinto uma leve pressãozinha na hora de fazer xixi.
Retirei os pontos uns quinze dias depois da cirurgia, se não me engano, e meu maior problema agora é esperar pra tomar medidas que me ajudarão a gostar mais do meu reflexo no espelho (pintar o cabelo, fazer tatuagem e academia, por exemplo), ter leite o suficiente (porque essa garota mama demais!) e encontrar mais tempo para dormir. Sei que neste momento - daqui pra frente, melhor dizendo -, a prioridade é a Eva e que eu fico em segundo plano, mas cuidar de mim também é essencial.

Dito e vivido tudo isso e mais um pouco, eu me pergunto duas coisas: 1) Como alguém consegue passar por um pós operatório sem ajuda? Nem todas as mulheres tem/tiveram/vão ter a sorte de receber toda a ajuda que eu recebi e eu não consigo nem imaginar como alguém se recupera dessa cirurgia sozinha tendo que conciliar com os cuidados com o bebê, de si própria e demais tarefas domiciliares, etc. E 2) Não existe comodismo na cesariana. Beleza que a mulher não tem trabalho pra parir, mas o pós operatório vai recompensar tudo depois, haha.

Tal mal, tal filha; Bocas abertas de cansaço. Quando a manhã vira noite e eu aproveito o sono da Eva pra dormir.
Ps: Eva faz um mês neste sábado, portanto, as coisas ainda estão agitadas. Não tenho muito tempo livre (quando tenho, obviamente aproveito pra descansar) e por isso não estou conseguindo escrever como gostaria, de forma detalhada e devidamente informativa. Sendo assim, este e o anterior foram mais resumidos, MAS depois eu destrincho algumas coisas (ex: amamentação) pra dissertar exclusivamente sobre elas, beleza? Me perdoem.



segunda-feira, 30 de março de 2015

11/03/2015 - Meu parto, roubado.

Foram nove longos meses de expectativas e muito muito estudo.
Quem me conhece ou acompanha aqui ou no facebook sabe como eu desejei um parto normal e como me preparei pra isso. Acho que nunca estudei tanto pra alguma coisa, nem mesmo quando realizei a prova do Enem anos atrás. Mas, infelizmente, a prática nem sempre segue a teoria, e toda a preparação que eu tive não foi suficiente na hora de bater de frente com o obstetra, a pressão externa e as inseguranças desencadeadas pela circunstancia. Fui mais uma vítima do sistema.
Sim, minha filha nasceu linda e saudável, mas isso não me faz ter nenhum orgulho e satisfação com o meu "parto", e definitivamente isso não vai me converter em uma pró cesárea eletiva. Meu ativismo pelo parto normal continua e agora mais do que nunca eu tenho domínio pra dizer que "Não, não vejo nada de bonito, especial ou confortável na cesárea".


No dia 10/03, terça-feira, fomos ao hospital Daniel Lipp em Caxias para uma consulta. Eu estava na 41° semana de gestação e havia toda uma preocupação generalizada por se aproximar a 42° e não aparecer nenhum sinal de trabalho de parto.
Eu me sentia bem, e sentia que a Eva também estava bem. Todo o pré-natal tinha sido muito bom e consistente, então eu basicamente topei ir lá apenas pra confirmar minha intuição, numa esperança ingênua de confortar a família e consequentemente ficar mais tranquila.
Fui atendida por um médico simpático até. Ele deu uma olhada na minha cartilha de pré natal, ultras, mediu minha pressão, ouviu os batimentos dela e fez um exame de toque. Tirando o último, tudo estava ótimo e em conformidade com os resultados que obtive ao longo da gestação, porém, eu permanecia sem dilatação e Eva continuava "alta".
Como eu estava munida de informação, eu sabia que nenhuma dessas duas coisas era um problema de fato. Eu ainda teria uma semana, e se nada mudasse, o trabalho de parto naturalmente se encarregaria de encaixá-la e da dilatação, normal. Se não havia nada de errado com a gente, não tinha como prever que a coisa não iria acontecer como se espera até que a hora H chegasse. Mas, 41 semanas + nenhum sinal de tp + bebê alto + plano de saúde...  Eu já farejava o que viria, e comecei então meu próprio apedrejamento mental por ter acreditado que seria possível sair daquela consulta como eu tinha suposto.
O obstetra começou dizendo que eu poderia sim esperar até a próxima semana, só que seria "importante" fazer um doppler pra analisar a circulação sanguínea e principalmente a placenta, uma vez que "corria-se o risco" de sua qualidade estar ou ficar inferior "em função do tempo avançado" da gestação, sendo assim, o ultrassom "me daria mais segurança" pra esperar até a 42 semana. Feito isso, então ele sugeriu voltar lá no dia seguinte com o resultado para que o GO plantonista desse uma olhada; Depois comentou que particularmente "ele não costuma deixar suas pacientes passarem da 41° semana" e que se eu tivesse ido lá mais cedo, como o centro cirúrgico tinha ficado livre, ele teria me internado e feito a cirurgia naquele mesmo dia. Bem assim, na lata. Pelo menos foi sincero

Bom, era fato que eu não conseguiria uma doppler pro dia seguinte, então tudo o que eu tinha que fazer era decidir se voltava lá no dia seguinte ou não. Eu sabia que o outro plantonista também seria a favor da cesárea, já previa tudo que ele poderia falar.
Com o que o médico tinha dito, a tensão externa aumentou (com exceção do Ian, que deixou nas minhas mãos e concordava que podíamos esperar mais). Sem o ultrassom pra assegurar que estava tudo normal, as preocupações ganharam mais força e por mais que a lógica e as evidências estivessem do meu lado, não eram suficientes para convencer.
Fora isso, eu comecei a entrar num conflito interno com o que poderia acontecer se eu decidisse esperar, exemplo: Chegar na 42° semana, o tp não engatar ou demorar muito e aí me colocarem na indução e eu não gostava nada da ideia dessa possibilidade; Contrações mais dolorosas, recuperação mais difícil nos intervalos, mais intervenções desnecessárias, etc. Também não teria meu parto como desejava, sem falar que as chances de acabar numa cesárea no fim das contas seriam grandes. Dava até pra imaginar as desculpas (ou talvez realidade)... "sofrimento fetal", "presença de mecônio" e afins. Tenso. O tempo estava contra mim, e agora, minha mente também.

Voltamos no hospital no dia seguinte bem cedo e aconteceu exatamente o que eu imaginava e temia. O GO plantonista fez tudo o que o outro tinha feito com a diferença que saí da sala dele com a papelada para internação. Tchau parto normal.

Sorte ter bebido um suco e comido uns biscoitos ao acordar, pois fiquei quase dez horas em jejum.
Não sei definir o que eu pensei e senti naquelas horas enquanto esperava no quarto. Acho que nada. Eu estava num estase, mas não daqueles prazerosos e relaxantes.
Felizmente - pelo menos -, eu dividi o quarto só com mais uma moça (ela também fez cesárea), então passamos a tarde conversando junto aos nossos esposos. Alias, se não fosse por termos conhecimento da lei, Ian se quer teria assistido a cirurgia ou passado a noite. O hospital tem esse protocolo interno ilegal de permitir apenas acompanhantes do sexo feminino, e pra assistir ao parto o médico precisava autorizar, mas o Ian deixou claro que se ele não pudesse entrar, eu nem seria internada ali, e mais tarde deu jeito de também ser meu acompanhante.

Ele, na verdade, seria a pessoa mais qualificada pra escrever meu relato. Ele sim esteve em posição e condição de ver tudo pra poder contar. Eu? Deitada, grogue por causa do medicamento no soro, incapaz de me mover por causa da raqui e dos braços amarrados, com uma cortina sob meu busto bloqueando todo o meu campo de visão. O que posso melhor é relatar o preparatório para a cirurgia quando ele ainda não tinha sido liberado para entrar e eu estava plenamente consciente.

Embora eu transpirasse horrores no caminho até o centro cirúrgico, me surpreendo com a força psicológica e emocional que sustentei até o "grande" momento. Não apenas pela decepção, mas por causa da minha leve fobia com ambientes hospitalares. Aquela sala era angustiante! Um péssimo lugar pra receber um novo ser humano, e toda aquela aparelhagem e profissionais? nada daquilo me transmitia a tal segurança que o hospital dá a maioria das pessoas.

Até onde me lembro, a sala era super iluminada, refrigerada e organizada de uma forma que deixava a maior parte do espaço livre. No centro ficava a "cama" onde eu fiquei sentada por alguns minutos. O medicamento que o anestesista colocou no soro fez efeito quase imediato, me deixando tonta e leve. Acho que já estava tremendo naquele momento, mas não necessariamente como efeito colateral da intra-venosa.
Depois de uns minutos, o anestesista veio com a raquidiana. Mexi muito; Quando ele aproximava a agulha nas minhas costas, dava aquele arrepio na espinha e eu me contorcia involuntariamente. Ele e a enfermeira pediram pra eu não me mexer, mas não era algo que eu conseguia controlar. Felizmente, não deu nenhum problema.

Rapidamente, comecei a sentir um calor subindo dos pés até a perna junto de um leve formigamento. Foi só aí que eu me deitei e eles começaram a preparar o "cenário"; Fui despida e enquanto iam cobrindo algumas partes do meu corpo, montando a cortina, amarrando meu ante-braço e passando algum treco pela minha barriga, o formigamento aumentava num ritmo acelerado, logo alcançando meu baixo ventre - tanto que eu mal senti colocarem a sonda. A sensação evoluiu de um adormecimento para uma incapacidade total de mover minhas pernas e pés. Na barriga, quando deslizavam a gaze (ou já estavam me cortando?), parecia que ela descolava um velcro da minha pele.. Uma sensação meio bizarra, mas nada dolorida. E isso foi a última coisa que eu senti dali pra baixo até horas mais tarde.
Todo esse processo de preparação pareceu demorar bem mais do que o período de tempo em que creio que o médico começou a me abrir até o choro da Eva, e ao mesmo tempo, aqueles foram os minutos mais longos da minha vida.
Ian já estava na sala nessa hora, e me confortava ao pé do ouvido lembrando disso.


Mesmo grogue, eu tentava ouvir o bip do meu ritmo cardíaco e esperava ansiosa por algum sinal dela, que chegou com um choro alto. Infelizmente eu não vi quando ela saiu (melhor dizendo, foi retirada) de mim. Não vi como fizeram isso e o que fizeram com ela depois. Eu ouvia a equipe fazendo comentários sobre ela ser cabeluda e bonitinha misto ao seu choro intenso que certa hora ficou estranho porque, creio eu , a aspiraram. Lembro-me também da voz do Ian falando que não queríamos que aplicassem o colírio de nitrato de prata (algo que eu havia pedido veemente mais cedo pra ele fazer quando chegasse o momento), e pelo menos esse item do meu plano de parto aconteceu. Então soltaram meus braços, trouxeram ela enrolada para perto do meu rosto e tiraram algumas fotos pra gente. Eu mal visualizei o rostinho dela no estado em que eu estava.

Meus batimentos caíram um pouco enquanto me costuravam (eu acho que faziam isso nessa hora) e tive aquele pensamento recorrente e estúpido de que iria morrer ou algo do tipo, mas sabia que não. Daí, minha memória dá um salto para eu sendo colocada na maca > me passarem para a cama + me colocarem uma espécie de fralda > Eva sendo colocada perto de mim.
Infelizmente eu nem sei dizer quanto tempo ela ficou ali, minha reação, como ela estava, pois eu estava muito sonolenta e fraca. Outro incômodo também era o efeito da anestesia que persistiu por algum tempo (eu pedia o Ian para mexer e contorcer um pouco os meus dedos na tentativa de diminuir a agonia) e a ausência de um travesseiro, que de acordo com a enfermeira, era pra evitar que eu ficasse com cefaleia por causa da raqui.
E então eu apaguei e dormi por algumas horas... ou minutos (?). Minha noção de tempo era nula. Só sei a hora que Eva nasceu por causa da pulseira de identificação: 20h20m.


A verdade é que não há nada de especial na cesariana, exceto quando ela salva uma vida.
Não posso defender dizendo que "ah, mas ela trouxe minha filha e isso é especial".. Não. Ela não "trouxe" a Eva. Ela TIROU a Eva de dentro de mim, onde ela ainda estava muito bem, obrigada, e se "pelo menos ela nasceu com saúde", isso não é mais do que obrigação da equipe cirúrgica, uma vez que minha filha estava completamente saudável até então, e a responsável por isso fui eu que a gerei por nove meses e policiei meus hábitos.
Na cesárea eu não sou protagonista do meu parto, tampouco minha filha. O ambiente é frio, os profissionais são indiferentes e eu não vejo como me emocionar com a situação, pois ela não me oferece nada pra sentir envolvida. Eu estava ali, mas estava longe, levada pelo efeito dos medicamentos no soro e da anestesia. Eu estava ali exposta para estranhos que viam a mim e a Eva como mais uma, sendo aberta e costurada, vulnerável e incapaz de monitorar o que faziam com a minha filha, que não apenas chegou ao mundo no susto carregada e esfregada por estranhos, mas foi também impossibilitada de se juntar a minha pele e seio imediatamente após sair de meu ventre e encontrar os olhares afetivos de seus pais...
Pensar que ela não se lembrará de nada também não torna a coisa mais aliviante... eu vou lembrar, pois o que era pra ser o momento mais memorável da minha vida, é apenas um conjunto de lembranças majoritariamente desagradáveis e cheio de lacunas. 

Obs: O relato do pós operatório eu conto no próximo post. Aguardem.

domingo, 22 de fevereiro de 2015

Lugar de grávida é aonde ela quiser!


Sabe, é meio impossível ser mãe e não acreditar num mundo melhor. Fazer isso é parte fundamental do processo de aceitar a ideia de gerar e criar um novo ser humano, pois sem esse otimismo, trazer uma nova vida ao mundo não faria sentido seria cruel. Viver tem que valer a pena.
Infelizmente, a sociedade sempre dá um jeito de lembrar o porquê disso ser tão difícil, e recentemente a sociedade fez isso de novo.

A imagem de uma gestante desfilando numa escola de samba fez a alegria dos falsos moralistas, machistas e sensacionalistas nas redes sociais nestes últimas dias.
Algumas páginas de humor se aproveitaram da imagem e fizeram piadinhas linkando o caso com a questão dos assentos e filas preferenciais. "Ficar na fila do caixa não pode, mas sambar na Sapucaí pode? Me aguarde!", dizia uma dessas imagens, por exemplo.

A principio eu levei as publicações na esportiva e preferi pensar que era apenas brincadeira, uma tentativa de humor negro, digamos assim.
Eu achei que, assim como eu, todos viam ali um caso muito específico de gestante e que seria simplesmente sem noção usar aquele exemplo pra generalizar e achar que todas as mulheres possuem o condicionamento físico de uma passista, e que deslegitimar a importância dos lugares preferenciais com aquilo seria de uma ignorância absurda... Mas eu me enganei. 

Eu vejo essa falta de empatia das pessoas com quem não conhecem e grupos da qual não pertencem o tempo todo, mas nunca tinha visto dessa forma contra grávidas (e idosos também, sobrou até pra eles). Talvez eu nunca tivesse visto antes porque não era uma e vivia num mundo diferente.
Mas mesmo quando eu não fazia parte deste grupo, quando não fazia ideia de como era a rotina de uma grávida e todas as transformações e dificuldades consequentes de uma gestação, era impossível não ter sensibilidade. Entender a necessidade dos lugares preferenciais era pura questão de bom senso, educação e respeito, nada difícil de se compreender e ainda menos "sacrificante" de se respeitar. Tão tão simples, que eu sempre achei patética a ideia de precisar sinalizar assentos e filas com placas forçando uma conscientização que deveria ser natural.
Sendo assim, doeu ver o nível de cinismo e egoísmo das pessoas, que geralmente são mascaradas, dessa vez sendo tão escancaradas e de forma demasiadamente injusta.
Alias, mais do que falta de sensibilidade, os comentários beiravam a burrice. Burrice porque as pessoas estavam expondo seu egoísmo gratuitamente em imagens que pegavam este caso isolado - de uma grávida com preparação, saúde e certamente acompanhamento médico, que a possibilitava de desfilar e sambar por um hora na Sapucaí - para falar de forma geral, como se todas as gestantes pudessem ser enquadradas igualmente; Todas possuem plena condição de ficar em pé numa fila por minutos ou horas, ou então de entrar num ônibus ou metrô e ficar plantada no meio de uma multidão correndo o risco de cair numa freada repentina ou de levar uma cotovelada na barriga sem querer. (Ps: estas coisas também podem acontecer com gestantes passistas, atletas e afins). Ou seja, não se trata apenas do bem estar da mulher. A preocupação principal é em preservar o bebê. Mas não... As grávidas são oportunistas! Se aproveitam de sua condição para "tirar o lugar" dos outros. Puf, Hilário.

E aí a pessoa vem "Mas e o bebê daquela passista também não corria risco com ela sambando daquele jeito? Que irresponsável! Ela podia escorregar, tropeçar, blábláblá". Talvez sim. Poderia acontecer isso realmente, mas essa chance também existe quando a mulher simplesmente caminha na rua - ou em casa -, com ou sem salto. E aí, a gente faz o quê? Não sai da cama?
E sobre a "irresponsabilidade", gravidez não é doença. Como se sabe e eu já falei, passistas possuem preparação pra tal atividade. Somente ela (e seu médico) sabem da condição de saúde dela e do bebê e seus limites. Se você é contra esse tipo de coisa, beleza, seja contra pra você. Não desfile, não sambe, não faça atividades que julga inapropriado para uma gestante, mas não se ache em posição de apontar e criticar quem pensa diferente, quem gosta e quem é capaz. 

Numa dessas publicações do facebook, no meio de tantos comentários descabidos, um rapaz falou algo sobre lá (Sapucaí) e pular carnaval "não ser lugar de grávida". Clássico; Um homem querendo nos dizer o que e como fazer alguma coisa, mesmo sendo algo da qual é incapaz de ter qualquer domínio pessoal sobre o assunto. Clássico; Um homem disseminando a ideia de controle sobre o corpo/vida da mulher quando este só pertence a ela e ninguém mais.
Pois eu lhe digo: Lugar de grávida é aonde ela quiser! É onde ela deseja e é capaz de estar, e se ela quiser e/ou precisar chegar nesse lugar sentando num lugar preferencial, ela tem esse direito. Ponto.

Quem me conhece sabe que sou mulher de um dj e produtor e acompanho-o na maioria das festas desde sempre; A última, por exemplo, foi ontem (sábado), e estou com nove meses.
No entanto, eu passo a maior parte do tempo sentada, pois embora eu não seja exatamente uma sedentária, tenha feito aulas de dança ao longo da infância e adolescência e todo o meu pré natal tenha sido ótimo, eu não tenho a mesma disposição que aquela passista, rs.Uma pena!
Ficar quietinha é uma opção minha, é como eu me sinto mais confortável - assim como não beber e não fumar, que eu também não faço mais nas baladas desde o inicio da gestação. Mas o fato de ir nas festas não me torna uma pessoa irresponsável, ou faz mal pra mim ou para a Eva.
É engraçado como sempre tem alguém nestas festas se surpreendendo com a minha presença lá. Se eu falar a idade gestacional então, a pessoa já abre aquele olhão e bota a mão no rosto com um "menina, que coragem!".
Eu não entendo muito bem o que há de corajoso nisso. Provavelmente o susto se deve ao fato de simplesmente não estarmos acostumados a ver grávidas nestes ambientes. E realmente, casas noturnas não são os lugares mais apropriados para nós.
Não se trata de moralismo, ok! Falo isso porque muitas boates carecem de lugares para sentar e descansar, e para as que não bebem e não dançam loucamente, seria meio sem sentido mesmo ir pra uma festa assim, rs. Eu vou basicamente para prestigiar o trabalho do meu esposo e amigos produtores (até porque eu também sou designer da maioria destes eventos), e aí consequentemente, me distraio, o que é ótimo pra minha saúde mental!

Também é comum alguém explicar que me acha corajosa porque a pessoa no meu lugar ficaria com medo em função do parto, tipo "já pensou você parir aqui!?". Eu dou risada. É difícil acreditar que alguém realmente acha que a coisa toda se daria assim vapt vupt, que eu fosse parir de um minuto para o outro!
As vezes eu tenho a chance de lembrar/explicar sobre os pródromos, que o trabalho de parto é demorado, que até chegar no momento do expulsivo poderia levar horas, e portanto, eu teria tempo de sobra pra sair da boate e ir para a maternidade de boa - que a proposito, se tratando de uma festa no centro do Rio (exemplo Teatro Odisseia ou Espaço Acústica), eu chegaria em menos de dez minutos, bem melhor do que se eu estivesse em casa, que levaria uns quarenta minutos no mínimo, rs.
Enfim. Sou um caso isolado, assim como a passista. 

 Look para a festa (Over.Dose Beijoqueira) de ontem.
Estar grávida nos limita sim, cansa sim, pesa sim (e muito). Além disso, muitas mulheres trabalham a maior parte da gestação; Não andamos de ônibus e metrô por prazer! Não encaramos filas porque gostamos. Alguém faz isso? E ficar em pé parada é bem mais cansativo do que em movimento, e acredito que isso vale mesmo quando não se está grávida, faça um teste.
É claro que há pessoas não grávidas que podem estar mais cansadas, e portanto mais necessitadas daquele lugar do que uma gestante. Logo, se você está bem disposta e/ou não vai demorar, basta não aceitar o lugar, ou cede-lo para outra pessoa. Eu sempre fiz isso e continuo fazendo, mesmo não pegando muito transporte público ou filas; Da mesma forma, já vi muitos idosos recusando ou cedendo lugares.
Mais uma vez: a conscientização deveria ser natural e válida para todos, preferencial ou não.

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

Nove meses. E agora?


Ansiedade, ansiedade e mais ansiedade me define.
Eu me aconselho mentalmente, minha doula me aconselha no facebook, conselhos everywhere, mas nada que seja dito consegue exterminar esse misto de euforia e impaciência.
Quem já engravidou ou está nesse mesmo período certamente me entende. Eu bem que gostaria, pois sei que não é bom, mas não consigo exercer controle sob minhas emoções.
Eu me sinto como um cronômetro, que sempre esteve ali pronto pra contar os minutos, mas só agora foi ativado. Qualquer desconforto eu já fico no alerta; "Opa! Será que agora vai?!"... Já perdi as contas de quantas vezes me peguei nesse pensamento desde a semana passada - sempre animada.
Alias, isso é até meio engraçado, porque geralmente eu topo com gestantes nervosas, felizes sim, porém, ainda amedrontadas com a ideia da dor e tudo o mais, enquanto eu fico na expectativa de sentir logo uma contração pra valer, e embora eu tenha sim receio de como será o tratamento que vou receber, nenhum medo consegue superar essa necessidade de saber como é a experiência de parir. 
Se eu vou aguentar até o final, se vai ser tudo como eu planejo e tal, isso são outros quinhentos.. Mas eu não me perdoaria se não tentasse, se não sentisse o gosto.

A essa altura, com exceção de algumas coisas que ainda estão para chegar vulgo colchão, bebê conforto, alguns sapatinhos, temos quase tudo esperando pela pequena Eva,
O cantinho que improvisamos no nosso quarto já está meio caminho andado, faltando apenas os acabamentos no berço, e até as bolsas da maternidade estão quase que totalmente preparadas (segue abaixo uma lista com itens que levarei, pra quem quiser uma ajuda), faltando apenas acrescentar coisas minhas que eu prefiro colocar no dia quando os sinais do trabalho de parto começarem. Primeiro porque são coisas que eu utilizo no meu dia a dia, e então seria chato ficar tirando e botando na mala. Segundo porque eu quero ter alguma coisa pra ajudar a distrair e passar o tempo no dia entre uma contração e outra.

Por falar em maternidade, já disse em oportunidades anteriores que não sou muito das convenções sociais, mas eu não curtir muito certas coisas, não significa que eu vou impedir quem gosta de providenciar.
Tô explicando isso pra justificar essas corujinhas aí da foto, rs. São chaveiros de lembrancinha pra galera que for nos visitar após o nascimento da monstrinha, encomenda na minha sogra, bem como esse treco de porta que eu não sei/esqueci o nome. 


Aviso que prefiro que as visitas sejam feitas quando eu já estiver em casa, rsrs. 



Ansiedade e preparativos à parte, no diz respeito a Eva, parece que ela não está tão afoita quanto a gente não. E mesmo seus 50cm e 3 kgs parecem ainda muito bem aconchegados no meu útero.
O mesmo não pode se dizer de mim, que recebo chutes e porradas com mais força e frequência (quem disse que eles se mechem menos no final da gestação não conhece essa menina), além do peso na pelve que causa um desconforto chato especialmente no cóccix. 

Embora minha dpp (data de previsão de parto) seja para o dia 05/03, a Eva já está numa idade gestacional que não seria mais considerada prematura caso resolvesse nascer. Não à toa, a grande maioria das cesáreas são agendadas para a 38° semana, pois é quando o bebê supostamente já está desenvolvido e apenas ganhando peso. O único problema é que isso nunca é efetivamente uma garantia uma vez que cada bebê se desenvolve diferente, e consequentemente, tem-se uma frequência elevada de recém-nascidos na UTI por prematuridade. Até porque, diga-se de passagem a critério de informação, ultrassons nem sempre são precisos! A margem de erro pode ser de até duas semanas, para mais e - principalmente - para menos, ou seja, o médico/mãe pensa marca a cirurgia pra tal dia achando que o bebê tem 38, quando na verdade ainda tem 36, por exemplo. :/
Mas voltando aqui no meu caso, nada de pródromos por enquanto.. Nenhum sinalzinho de trabalho de parto se quer - pelo menos, nenhum que eu consiga perceber.
Haviam algumas apostas de que ela viria dia 17 ou 18, o que seria bem legal por causa da virada pra Lua Nova. Erramos (as apostas eram minha e da minha sogra). Agora a nova torcida é para o dia 23 ou 25; No caso da segunda data, tem virada pra Lua Crescente (é, eu tenho uma coisa com lua #pagã). Se errarmos de novo, que a minha go então tenha acertado e a Eva chegue dia 05, que é Lua Cheia. *-* Quer dizer... Por mim ela poderia chegar hoje que tava melhor ainda, mas deu pra entender.

E aí, mais alguém quer entrar no bolão?! \o/

Três bolsas e eu ainda tenho sérias dúvidas se vai caber tudo. 
Abaixo eu transcrevi o que listei originalmente pra levar para a maternidade. Na prática houveram alguns acréscimos.
Como eu sou marinheira de primeira viagem, elaborei os itens me baseando na lista de outras mamães, então não sei se tudo será usado, se vai faltar algo, etc.
Algumas maternidades fornecem determinadas coisas (tipo fralda e absorvente), mas eu prefiro não contar com isso. Sendo assim, não se garante nas minhas ideias não, até porque eu fiz uma lista para 48 horas - que é o protocolo no caso de parto normal, sem complicações e tal. Pode se basear nesta se quiser, mas adicione um pouco de intuição e arrume sua bolsa como achar mais adequado.
  • Dois pacotes de fralda RN;
  • Um pacote de lenços umedecidos;
  • Uma pomada p/ assaduras;
  • Um sabonete glicerinado (pra Eva);
  • Um álcool em gel pequeno para higienização das mãos dos visitantes pq sim, serei chata quanto a isso rs;
  • Escova de cabelo;
  • Duas toalhas fralda;
  • Seis fraldinhas de boca;
  • Dois cueiros;
  • Três trocas de roupa contendo body, meia, calça, blusa c/ manga;
  • Duas luvinhas e toquinhas;
  • Roupa da saída + manta 
  • Três camisolas;
  • Penhoar;
  • Três sutiãs de amamentação;
  • Cinco calcinhas grandes;
  • Chinelo comum / Chinelo para banho
  • Absorventes noturno;
  • Absorventes para seios;
  • Roupa da saída;
  •  Desodorante, sabonete, pente, escova/pasta de dentes, maquiagem, câmera, celular, carregadores, documentos, exames e lembrancinhas. 
Bom. Eu sou uma pessoa muito prática e com senso de economia. E como comentei nos posts anteriores, eu não pretendo incluir chupeta e mamadeira na rotina da Eva nos primeiros meses, então algumas de vocês poderão achar minha lista pequena em comparação com outras por aí.
Espero que ajude mesmo assim.