terça-feira, 20 de janeiro de 2015

Meu plano de parto e os porquês - Parte 2

*Como o assunto é extenso, vou dividi-lo em 3 posts. Essa é a parte 2. Não deixe de abrir os links e complementar a leitura*

No post anterior eu comecei comentando alguns itens referentes ao trabalho de parto.
Queria dizer que fiquei contente com a recepção do post aqui e no facebook e espero que continue assim. Aos que não concordarem com alguma coisa, sintam-se livres para dar suas opiniões (com argumentos válidos, de preferência) e eu os responderei assim que possível.
Continuemos...


Expulsivo:
- Prefiro que o bebê nasça no quarto, não numa sala cirúrgica;
- Quero parir na posição que mais me agradar ou der vontade na hora do expulsivo, NÃO quero posição de litotomia (posição ginecológica) e nem pernas amarradas;
- Quero fazer força somente quando sentir vontade, não quero ser guiada ou pressionada;
- Prefiro luz baixa e ambiente calmo;
- Não quero episiotomia;
- Não quero manobras para a saída do bebê (kristeller e outras);
- Quero meu bebê imediatamente no meu colo após o nascimento;
- Quero amamentá-la logo em seguida;

Obs: expulsivo é o período do parto em que o bebê efetivamente nasce. (leia sobre essa fase aqui)

A este ponto a mulher está super exausta e louca pra acabar logo com tudo isso, ao mesmo tempo que possivelmente preocupada com o bem estar do bebê caso o trabalho de parto tenha levado muitas horas. Sem falar da equipe que certamente está ainda mais impaciente.
Se eles já se meteram antes com maneiras de acelerar a dilatação, é claro que vão se meter agora também pra acelerar a passagem do pequeno pra esse mundo; só é irônico que eles mesmo se atrapalham quando já começam errando no mais básico da coisa, a posição da mulher. 


 "posição de litotomia é a posição menos recomendada para o parto, porém é a mais comum. Nessa posição, a mulher fica deitada de barriga para cima e coloca as pernas para cima (em estribos ou segurando as pernas) na hora de fazer força. É a posição mais comum porque é a que permite a melhor visualização da área pelo médico e uma maior área de manobra (...) Essa posição não favorece o trabalho de parto, pois o  peso do bebê fica apoiado nas costas da mulher, comprimindo seus vasos sanguíneos, ao invés de pressionar o colo do útero para favorecer a dilatação. Essa posição obriga a mulher a parir seu filho para cima, contra a gravidade, o que exige que faça mais força e, por estar puxando as pernas para cima, seu períneo fica mais esticado, aumentando as chances de laceração. Além disso, nessa posição, o cóccix da mulher fica apoiado na cama, o que atrapalha a correta dilatação dos ossos da pelve." [x]

Dar autonomia para a mulher ter livre movimentação e experimentar outras posições, mesmo que no final ela acabe nessa mesmo, é fundamental para o avanço dessa fase. Eu ainda não sei em qual posição eu vou estar quando tudo terminar, mas com certeza vou ser esperta e usar a gravidade ao meu favor e ficar em vertical em algum momento na hora de fazer força.
O que nos leva a outro item...


"Os puxos são aquela vontade natural de começar a fazer força quando o trabalho de parto chega no período expulsivo, ou seja, a dilatação está completa e o bebê está pronto para sair. É um processo completamente natural e independe da vontade da mulher, isto é, mesmo que queira, uma mulher não consegue fisicamente impedir que seu bebê nasça (...) Instigar a mulher a fazer força antes da hora é, além de inútil, doloroso, prejudicial e cansativo. A parturiente precisa concentrar suas energias e deve ser deixada à vontade para fazer força quando e se sentir necessidade. Puxos precoces e/ou dirigidos aumentam o risco de laceração (machucado no períneo), fazem com que a capacidade de oxigenação da mulher e, por consequência, do bebê, diminua, o que pode ser arriscado, causar tonturas e mal estar." [x


Vai! Agora, empurra! Força - outra cena clássica e dispensável de filmes e novelas.
Ou seja, se você sabe o que acontece com o seu corpo nessa fase do trabalho de parto, então vai entender que a vontade de empurrar acontece naturalmente. Não é preciso ter alguém conduzindo! Fazer isso está relacionado com uma insignificante diferença na duração do trabalho de parto¹, e simplesmente não vale a pena correr riscos mais expressivos pra diminuir o processo em 5, 10, 15 minutos.
O puxo guiado te faz gastar mais energia, na hora errada e consequentemente passar a impressão de que seu tp foi mais sofrido (e foi mesmo, só que por um erro do profissional envolvido).


E nessa linha de procedimentos que eles defendem como uma forma de ajudar o bebê a sair, tem duas intervenções que eu particularmente considero as piores: episiotomia e a manobra de kristeller. 

"Praticada em cerca de 80% dos partos, quando o ideal seria em 20%, a incisão está na mira das autoridades de saúde desde que a Medicina Baseada em Evidências provou que, na maioria dos casos, não protege nem a mãe nem o bebê. Ao contrário, seria responsável por um número maior de infecções pós-operatórias, hemorragias e até rebaixamento da bexiga. 
Esse último seria um dos fatores que levam à incontinência urinária na maturidade e ocorre porque o obstetra dificilmente consegue recompor a região pélvica como antes" [x]

A Organização Mundial da Saúde indica recorrer a episiotomia em casos de sofrimento fetal, progressão insuficiente do parto e iminência de laceração de 3° grau, no entanto, médicos realizam o corte quase que mecanicamente e sem o consentimento da gestante, e por ser uma prática tão rotineira - somado a falta de informação da grande maioria das mulheres -,
 muitas acreditam até que se trata de um procedimento "normal" e necessário, mas não, não é. Normal são as lacerações que podem ocorrer naturalmente no períneo, sendo que estas curam muito mais rápido por serem mais superficiais e podem ser evitadas ou amenizadas com exercícios e massagens na área durante a gestação.
Sobre a manobra de Kristeller, uma intervenção tão absurda que, mesmo felizmente sendo banida em alguns hospitais no país, ainda dá pra encontrar sendo feita por aí. 
Pra quem não tá assimilando termo ao ato, consiste na aplicação de pressão com as mãos/braços no fundo do útero, sobre a parede abdominal. Tenho certeza que você já ouviu alguém contando uma história de que o médico ou a enfermeira "subiu" em cima da mulher e apertou a barriga pra empurrar o bebê. Então, é isso.

"
A manobra de kristeller é reconhecidamente danosa à saúde e, ao mesmo tempo, ineficaz, causando à parturiente o desconforto da dor provocada e também o trauma que se seguirá indefinidamente 
Essa manobra é proibida em alguns países e não é recomendada pela OMS, pois além de ser uma violência com mãe e bebê, pode prejudicar o assoalho pélvico, o períneo, causar inversão uterina, ruptura uterina, e uma série e complicações no parto e pós-parto, podendo inclusive causar a morte materna ou fetal.  NÃO É INDICADA em caso algum! " [x]
Bom, ok. Pari, bebê nasceu, dor parou, que coisa linda, uhul! Tem mais? TEM.
Agora é preciso correr atrás do respeito e singularidade para o bebê, pois como se já não bastasse a robotização nos procedimentos sofridos durante o trabalho de parto, a gente também encontra este problema aqui, nos primeiros minutos e horas de vida do seu projeto de gente. E porque não começar pela recepção, nos primeiros segundos?
Pode parecer insignificante, mas faz sim diferença para o seu filho/a o ambiente em que ele chega; Lembre-se que o bebê ficou nove meses aconchegado num espaço calmo e quentinho! Imagina você despertar num mundo barulhento, agitado, com uma luz cegante e num cômodo refrigerado a menos de dezoito graus quando você está acostumado a trinta e seis? Não custa um pouco de sensibilidade, né!?
No entanto, nada é mais importante nos primeiros minutos de vida da criança (e para a parturiente também) do que nascer e ir direto para o colo da mãe. Sabe-se hoje que esse momento é tão significante que até o Ministério da Saúde determinou essa medida por aqui ano passado.
O contato pele-a-pele do recém nascido com a mãe tem vários benefícios físico e psicológicos para ambos, bem como a amamentação na primeira hora de vida. A mulher recebe um coquetel de hormônios nesse momento (responsável pelo processo de vínculo), e o aleitamento faz com que o útero se contraia, ajudando na expulsão natural da placenta.

 "Esse primeiro leite, mais rico em anticorpos, é praticamente uma vacina contra micro-organismos que podem atacar o bebê. (...) Temos estudos que já mostram muitos benefícios relacionados a esse contato inicial entre mãe e filho, como reduzir o risco de infecções e também de melhora da autoestima da mulher." [x]

"Amamentar os bebês imediatamente após o nascimento pode reduzir consideravelmente a mortalidade neonatal (a que acontece até o 28º dia de vida) nos países em desenvolvimento. Um estudo indica que é possível evitar 16% das mortes neonatais por meio da amamentação desde o primeiro dia de vida da criança, taxa que pode aumentar para 22% se o aleitamento materno começar na primeira hora depois do parto. " [x]

Após o Parto:
- Quero a expulsão espontânea da placenta;
- Bebê comigo o tempo todo, mesmo para avaliação ou exames, caso seja necessário levá-la, o pai irá junto;
- Aceito injeção de ocitocina para evitar hemorragia;
- Se houver laceração natural, quero anestesia local, sutura endodérmica;
- O pai cortará o cordão umbilical após este parar de pulsar, se ele não desejar, eu mesma quero fazê-lo.

Concluo essa parte com pedidos simples, mas que vale a pena ressaltar porque são costumeiramente desrespeitados em alguns hospitais, especialmente se a mulher não se impor.
Todos os exames realizados quando o bebê nasce podem ser feitos com ele no colo da mãe, e alguns se quer precisam ser executados assim tão imediatamente. Desta forma também fica mais fácil de analisar o que está sendo feito com o bebê, e especialmente, como está sendo feito. (Falo isso porque se você pegar alguns vídeos pra ver, salve exceções, possivelmente vai se assustar com a forma quase que agressiva que pegam e conduzem os procedimento avaliativos com o neném.)

Sobre o cordão umbilical, é comum que se clampeie/corte logo quando o bebê nasce, porém...

"Se o corte é feito logo que o bebê sai, claro que ele vai dar aquele choro forte na hora, pois ele é obrigado a expandir os pulmões se não ele fica sem oxigênio! Além de também ficar sem o aporte sanguíneo que ele naturalmente deveria receber, que fica preso na placenta. Um desperdício! O bebê ganha cerca de 100 ml a mais de sangue pelo cordão umbilical até o 3o minuto de vida, o que é um volume considerável para um bebê. E esse aporte sanguíneo previne anemia no primeiro ano de vida. Há evidências suficientes para que aconteça a mudança na prática. Uma das recomendações da Organização Mundial de Saúde é o corte tardio do cordão umbilical." [x]


Com mais essa, eu me pergunto - embora já saiba a resposta: " Pra quê a pressa, doutor?" 

Obs: Não escrevi ali no plano de parto porque ainda estou realizando pesquisas de como proceder sobre isso, mas meu desejo é doar a placenta/cordão umbilical. Se devidamente preservado, ele pode ajudar na cura de pacientes com doenças hematológicas (bem como utilizado em pesquisas com células-tronco), e como o cordão é descartado na sala de parto, seria um super desperdício.

(...)

Previsão para a última parte: 25/01

3 comentários:

  1. Muito bem, Ingrid. está seguindo por um bom caminho, prevenindo assim uma onda de sofrimento pra você, e pra Eva também. Ninguém merece nascer e vivensiar diversos tralmas em seus primeiros minutos de vida. se todas as mulheres tivessem as informações nescessárias de como proceder, não haveriam tantas violências com elas e com seus filhos, e porque não dizer das mortes? vamos ver se um dia esse país muda...... bjs! http://superandoopreconseito.blogspot.com

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  2. Estou adorando poder acompanhar seus planos para seu parto, até porque preciso terminar de planejar o meu também. Ainda tem muita coisa pra ser planejada e pouco tempo para conseguir fazer tudo kkk. Sei que ainda tem um mês, um pouquinho mais até, mas passa tão rápido. Se esses nove mêses passaram voando, o que é um mísero mês?
    Beijos

    http://vidasempretoebranco.blogspot.com

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  3. Nossa, você escreveu tudo que eu escreveria!
    Tudo isso é o que eu queria pra mim também.
    Quando eu falo que quero parto normal e "parir que nem india, na beira do lago", todo mundo me olha com cara de "WTF?!" -.^
    E eu com cara de "Qual o problema? O filho é meu, a dor é minha, o momento é meu e eu quero assim..."
    Mal posso esperar pra ver a Eva! E ler os seus relatos de parto, claro!

    Lara Torres - A Raposa Branca
    www.araposabranca.com

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