domingo, 22 de fevereiro de 2015

Lugar de grávida é aonde ela quiser!


Sabe, é meio impossível ser mãe e não acreditar num mundo melhor. Fazer isso é parte fundamental do processo de aceitar a ideia de gerar e criar um novo ser humano, pois sem esse otimismo, trazer uma nova vida ao mundo não faria sentido seria cruel. Viver tem que valer a pena.
Infelizmente, a sociedade sempre dá um jeito de lembrar o porquê disso ser tão difícil, e recentemente a sociedade fez isso de novo.

A imagem de uma gestante desfilando numa escola de samba fez a alegria dos falsos moralistas, machistas e sensacionalistas nas redes sociais nestes últimas dias.
Algumas páginas de humor se aproveitaram da imagem e fizeram piadinhas linkando o caso com a questão dos assentos e filas preferenciais. "Ficar na fila do caixa não pode, mas sambar na Sapucaí pode? Me aguarde!", dizia uma dessas imagens, por exemplo.

A principio eu levei as publicações na esportiva e preferi pensar que era apenas brincadeira, uma tentativa de humor negro, digamos assim.
Eu achei que, assim como eu, todos viam ali um caso muito específico de gestante e que seria simplesmente sem noção usar aquele exemplo pra generalizar e achar que todas as mulheres possuem o condicionamento físico de uma passista, e que deslegitimar a importância dos lugares preferenciais com aquilo seria de uma ignorância absurda... Mas eu me enganei. 

Eu vejo essa falta de empatia das pessoas com quem não conhecem e grupos da qual não pertencem o tempo todo, mas nunca tinha visto dessa forma contra grávidas (e idosos também, sobrou até pra eles). Talvez eu nunca tivesse visto antes porque não era uma e vivia num mundo diferente.
Mas mesmo quando eu não fazia parte deste grupo, quando não fazia ideia de como era a rotina de uma grávida e todas as transformações e dificuldades consequentes de uma gestação, era impossível não ter sensibilidade. Entender a necessidade dos lugares preferenciais era pura questão de bom senso, educação e respeito, nada difícil de se compreender e ainda menos "sacrificante" de se respeitar. Tão tão simples, que eu sempre achei patética a ideia de precisar sinalizar assentos e filas com placas forçando uma conscientização que deveria ser natural.
Sendo assim, doeu ver o nível de cinismo e egoísmo das pessoas, que geralmente são mascaradas, dessa vez sendo tão escancaradas e de forma demasiadamente injusta.
Alias, mais do que falta de sensibilidade, os comentários beiravam a burrice. Burrice porque as pessoas estavam expondo seu egoísmo gratuitamente em imagens que pegavam este caso isolado - de uma grávida com preparação, saúde e certamente acompanhamento médico, que a possibilitava de desfilar e sambar por um hora na Sapucaí - para falar de forma geral, como se todas as gestantes pudessem ser enquadradas igualmente; Todas possuem plena condição de ficar em pé numa fila por minutos ou horas, ou então de entrar num ônibus ou metrô e ficar plantada no meio de uma multidão correndo o risco de cair numa freada repentina ou de levar uma cotovelada na barriga sem querer. (Ps: estas coisas também podem acontecer com gestantes passistas, atletas e afins). Ou seja, não se trata apenas do bem estar da mulher. A preocupação principal é em preservar o bebê. Mas não... As grávidas são oportunistas! Se aproveitam de sua condição para "tirar o lugar" dos outros. Puf, Hilário.

E aí a pessoa vem "Mas e o bebê daquela passista também não corria risco com ela sambando daquele jeito? Que irresponsável! Ela podia escorregar, tropeçar, blábláblá". Talvez sim. Poderia acontecer isso realmente, mas essa chance também existe quando a mulher simplesmente caminha na rua - ou em casa -, com ou sem salto. E aí, a gente faz o quê? Não sai da cama?
E sobre a "irresponsabilidade", gravidez não é doença. Como se sabe e eu já falei, passistas possuem preparação pra tal atividade. Somente ela (e seu médico) sabem da condição de saúde dela e do bebê e seus limites. Se você é contra esse tipo de coisa, beleza, seja contra pra você. Não desfile, não sambe, não faça atividades que julga inapropriado para uma gestante, mas não se ache em posição de apontar e criticar quem pensa diferente, quem gosta e quem é capaz. 

Numa dessas publicações do facebook, no meio de tantos comentários descabidos, um rapaz falou algo sobre lá (Sapucaí) e pular carnaval "não ser lugar de grávida". Clássico; Um homem querendo nos dizer o que e como fazer alguma coisa, mesmo sendo algo da qual é incapaz de ter qualquer domínio pessoal sobre o assunto. Clássico; Um homem disseminando a ideia de controle sobre o corpo/vida da mulher quando este só pertence a ela e ninguém mais.
Pois eu lhe digo: Lugar de grávida é aonde ela quiser! É onde ela deseja e é capaz de estar, e se ela quiser e/ou precisar chegar nesse lugar sentando num lugar preferencial, ela tem esse direito. Ponto.

Quem me conhece sabe que sou mulher de um dj e produtor e acompanho-o na maioria das festas desde sempre; A última, por exemplo, foi ontem (sábado), e estou com nove meses.
No entanto, eu passo a maior parte do tempo sentada, pois embora eu não seja exatamente uma sedentária, tenha feito aulas de dança ao longo da infância e adolescência e todo o meu pré natal tenha sido ótimo, eu não tenho a mesma disposição que aquela passista, rs.Uma pena!
Ficar quietinha é uma opção minha, é como eu me sinto mais confortável - assim como não beber e não fumar, que eu também não faço mais nas baladas desde o inicio da gestação. Mas o fato de ir nas festas não me torna uma pessoa irresponsável, ou faz mal pra mim ou para a Eva.
É engraçado como sempre tem alguém nestas festas se surpreendendo com a minha presença lá. Se eu falar a idade gestacional então, a pessoa já abre aquele olhão e bota a mão no rosto com um "menina, que coragem!".
Eu não entendo muito bem o que há de corajoso nisso. Provavelmente o susto se deve ao fato de simplesmente não estarmos acostumados a ver grávidas nestes ambientes. E realmente, casas noturnas não são os lugares mais apropriados para nós.
Não se trata de moralismo, ok! Falo isso porque muitas boates carecem de lugares para sentar e descansar, e para as que não bebem e não dançam loucamente, seria meio sem sentido mesmo ir pra uma festa assim, rs. Eu vou basicamente para prestigiar o trabalho do meu esposo e amigos produtores (até porque eu também sou designer da maioria destes eventos), e aí consequentemente, me distraio, o que é ótimo pra minha saúde mental!

Também é comum alguém explicar que me acha corajosa porque a pessoa no meu lugar ficaria com medo em função do parto, tipo "já pensou você parir aqui!?". Eu dou risada. É difícil acreditar que alguém realmente acha que a coisa toda se daria assim vapt vupt, que eu fosse parir de um minuto para o outro!
As vezes eu tenho a chance de lembrar/explicar sobre os pródromos, que o trabalho de parto é demorado, que até chegar no momento do expulsivo poderia levar horas, e portanto, eu teria tempo de sobra pra sair da boate e ir para a maternidade de boa - que a proposito, se tratando de uma festa no centro do Rio (exemplo Teatro Odisseia ou Espaço Acústica), eu chegaria em menos de dez minutos, bem melhor do que se eu estivesse em casa, que levaria uns quarenta minutos no mínimo, rs.
Enfim. Sou um caso isolado, assim como a passista. 

 Look para a festa (Over.Dose Beijoqueira) de ontem.
Estar grávida nos limita sim, cansa sim, pesa sim (e muito). Além disso, muitas mulheres trabalham a maior parte da gestação; Não andamos de ônibus e metrô por prazer! Não encaramos filas porque gostamos. Alguém faz isso? E ficar em pé parada é bem mais cansativo do que em movimento, e acredito que isso vale mesmo quando não se está grávida, faça um teste.
É claro que há pessoas não grávidas que podem estar mais cansadas, e portanto mais necessitadas daquele lugar do que uma gestante. Logo, se você está bem disposta e/ou não vai demorar, basta não aceitar o lugar, ou cede-lo para outra pessoa. Eu sempre fiz isso e continuo fazendo, mesmo não pegando muito transporte público ou filas; Da mesma forma, já vi muitos idosos recusando ou cedendo lugares.
Mais uma vez: a conscientização deveria ser natural e válida para todos, preferencial ou não.

3 comentários:

  1. Oi Ingrid
    Acredita que não vi nada a respeito dessa passista? Não curto Carnaval e acabei perdendo as zueiras no Face. Assim como você, sou uma gestante bastante disposta, pelo menos na maioria dos dias hehe. Não preciso utilizar transporte público, mas nas raras vezes em que o fiz com meu barrigão, não precisei de assento preferencial e muitas vezes, sou eu quem acaba cedendo lugar, principalmente quando não estou no assento reservado para nós. É até assustador observar depois quantas pessoas se levantam para me oferecer lugar, mas nenhuma se ofereceu para levantar para a senhorinha cheia de sacolas se sentar. Um absurdo.
    Como você disse ,existem casos e casos. Essa passista tem um condicionamento físico para isso e, com certeza, obteve a "permissão" de seu médico para tal. Cada um deveria poder escolher o que fazer, independente de que fase esteja da vida.
    Beijos

    Vidas em Preto e Branco 

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Eu vi o caso da passista e achei ridiculo o preconceito que mostraram com ela. Gravidez é vida, é milagre e não doença! Se ela aguenta e tem permissão médica, ela que vá se acabe no carnaval achei lindaa, maravilhosa rs! Amei seu texto, estou seguindo! Também sou mamãe e blogueira, se puder passa lá: http://maequesonha.blogspot.com/

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